segunda-feira, 23 de março de 2009

Faxina completa.

Balde e vassoura nas mãos: é hora de ter uma experiência espiritual. Faxina é mais do que serviço braçal. Lembre-se da última vez em que você lavou uma pilha de louça. Aquele dia em que estava sozinho e à toa, ligou o som e foi enfrentar o desafio inadiável acumulado sobre a pia. Em que você pensou durante aquele tempo todo? Há quem medite nessa hora, concentrado-se nos detalhes de cada objeto, vivendo o agora e nada mais. Há quem se perca nas idéias - dizem que a escritora Agatha Christie bolava suas tramas entre um prato ensaboado e outro. Ao não ficar nos odiando por ter de esfregar as panelas, garantimos à cuca um raro momento de leveza. Sem falar no prazer de ver as coisas ficando limpas, cheirosas, organizadas - e parece que, se a casa está arrumada, os pensamentos se ordenam melhor também. Percorrendo cômodos adentro com o arsenal da limpeza, nos damos conta de que fazer faxina implica repensarmos o lugar onde moramos. Será hora de mudar um móvel de lugar, pendurar um quadro novo, trocar o tapete? Ir fundo na arrumação demanda ainda decidir que memórias e tralhas continuaremos guardando, quais iremos doar, o que vai para o lixo. E isso - escolher, afinal, o que ainda tem importância e abrir espaço ao novo - exige reflexão sobre quem fomos, quem somos, quem queremos ser. Um exercício e tanto para os braços, para a mente, para a vida. Texto Dilson Branco - Revista SORRIA - ed. 06

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